Trauma e o uso abusivo de substâncias: possibilidades de tratamento

O texto aborda a intrincada relação entre o uso abusivo de substâncias e o trauma, oferecendo uma proposta de tratamento sólido com abordagens abrangentes para a recuperação.

William Ferreira - Psicólogo

1/29/20243 min read

O trauma, seja ele resultante de eventos únicos impactantes ou experiências prolongadas, pode desencadear uma série de respostas emocionais e psicológicas. Infelizmente, para muitas pessoas, a busca por alívio dessas dores pode levar a uma dependência prejudicial de substâncias.

Trauma: A Raiz Profunda:

O trauma pode se manifestar de várias maneiras, desde eventos traumáticos isolados, como acidentes ou perdas, até experiências mais prolongadas, como abuso ou negligência. Essas vivências deixam uma marca profunda na psique, muitas vezes resultando em sintomas como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Para aliviar esses sintomas, alguns podem buscar um ¨remédio¨ frequentemente através do uso de substâncias psicoativas. Esse comportamento se torna problemático quando a pessoa perde o controle e passa a fazer um uso abusivo dessas substâncias.

A Dependência como Mecanismo de Adaptação:

A dependência de drogas muitas vezes surge como um mecanismo de enfrentamento para lidar com a dor emocional. As substâncias oferecem temporariamente uma fuga do sofrimento interno, proporcionando alívio momentâneo. Infelizmente, essa solução rápida pode se transformar em um ciclo vicioso, onde a pessoa se torna cada vez mais dependente da substância para lidar com as pressões da vida.

Círculo Vicioso: Trauma, Dependência e Reações em Cadeia:

O trauma e a dependência de drogas muitas vezes alimentam um ao outro, criando um círculo vicioso difícil de quebrar. A dependência pode exacerbar os sintomas do trauma, enquanto o trauma subjacente pode ser um fator de recaída, mesmo após períodos de recuperação. Entender essa relação intricada é crucial para desenvolver estratégias de tratamento eficazes.

Abordagens de Tratamento:

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC):

As Terapias Cognitivo-Comportamentais são fundamentais no tratamento da dependência. Essa abordagem centra-se na identificação e modificação de padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos prejudiciais. No contexto da dependência de drogas, a TCC ajuda os indivíduos a reconhecerem e alterarem pensamentos distorcidos sobre o uso de substâncias, promovendo estratégias de enfrentamento saudáveis e a prevenção de recaídas.

Terapia EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing):

A Terapia EMDR é especialmente eficaz para tratar traumas específicos. Esta abordagem inovadora envolve a estimulação bilateral do cérebro (através de movimentos oculares, toques táteis ou estímulos sonoros) enquanto o paciente reprocessa lembranças traumáticas, permitindo a dessensibilização emocional e a reintegração cognitiva. No contexto da dependência, a terapia EMDR pode ajudar a abordar as raízes mais profundas do trauma, reduzindo a necessidade de continuar ¨remediando" as situações da vida com substâncias.

Integração de Abordagens:

A combinação das Terapias Cognitivo-Comportamentais e da EMDR é uma estratégia poderosa. Enquanto a TCC aborda padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos associados à dependência, a terapia EMDR foca na resolução do trauma subjacente. A integração dessas abordagens permite um trabalho abrangente, abordando não apenas os sintomas da dependência, mas também as causas profundas.

Benefícios Compartilhados:

Ambas as abordagens visam a reprocessamento cognitivo, promovendo a resiliência emocional e ajudando os indivíduos a desenvolverem estratégias mais adaptativas. A TCC fornece ferramentas práticas para lidar com desencadeadores e pensamentos disfuncionais, enquanto a EMDR facilita a reinterpretação das experiências traumáticas, reduzindo a carga emocional negativa associada.

Conclusão:

A relação entre trauma e dependência de drogas é complexa, mas a recuperação é possível com o tratamento adequado. A compreensão da conexão entre esses dois elementos é essencial para desenvolver estratégias de intervenção eficazes. Ao abordar tanto o trauma quanto a dependência, podemos oferecer às pessoas uma rota mais clara para a cura, promovendo uma vida saudável e significativa após a adversidade.

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